sexta-feira, novembro 24, 2006

Um outro goleiro é possível...

Pessoal, depois de um tempo fora devido a problemas internáuticos, volto eu com minhas matérias jornalísticas.

Reparem o caso, o Flamengo perdeu mas a torcida aplaudiu o goleiro e reconheceu sua competência. Agora reparem o medo dele de reconhecer isso...

"É difícil falar sobre isso porque posso parecer individualista. Lamento a derrota do Flamengo. Mas posso dizer que esse reconhecimento é muito bom", afirmou Bruno, que terá seu contrato renovado para a Libertadores.

Qual o problema dele parecer individualista, já que ele é bom? Será que ele poderá não ser convocado para a seleção por ser individualista?

terça-feira, novembro 21, 2006

Inerte

Pois bem, pessoal, já que eu escrevi o continho do trem e postei aqui no blog, vou aproveitar o embalo pra postar mais uma vez. Desta feita, trata-se de uma espécie de continho em que tentei dar mais ênfase ao ambiente e a valoração dos sentidos. Este já tinha sido escrito há algum tempo e ninguém mais além de mim leu. Segue abaixo "Inerte":




Era só mais uma madrugada. A xícara com café continuava parada sobre a mesa, estática. A tela do computador pareceu menos nítida do que de costume quando fechou aquela janela em sua frente. Não se sentia mais ligada aos próprios braços apoiados sobre a mesa do teclado, e os olhos parados não mais fingiam. Seu corpo era finalmente um retrato de si mesma, o resultado final de uma equação cuja resposta ela insistiu em alterar por longos anos.

Não soube precisar o que de fato acontecera, e acontecer era algo que sua existência não concebia. Somente sabia que as cores já não eram tão vivas como antes. O café já não estava quente o bastante. Tinha sob seu controle tanto quanto possuiu quando acreditava ter tudo. Nada. Crenças não constroem fatos. Precisava agir, mas não conseguia mover um músculo sequer.

A respiração transpassava-lhe as cavidades nasais, causando na atmosfera fria do quarto uma ligeira nuvem. Céus, o que alguém mais faria em uma situação daquelas? Não havia alguém mais. Nem menos. Havia um único corpo inerte, deixando que os poucos feixes de luz artificial que adentravam seu quarto atingissem-lhe as costas.

Enquanto pensava, experimentava a sensação de um dejavu que faz dos fatos mais previsíveis. Pois não eram. E, como observadora inerte que era, somente pôde esperar e torcer por movimentos. Talvez espasmos. Alguém haveria de tirá-la dali. E logo.

Nada era tão simples. Simples como esperar que o sol surgisse e desse à grama o poder de crescer. Ou de querer crescer. Já não havia sinais de ânimo naquele corpo que ainda guardava vestígios de uma juventude recente.

Reparava cada vez menos nas cores, que naquela altura já se resumiam a tons de cinza espalhados como borras em uma tela que não fora exposta. Nada voltava a fazer sentido. Ou a parecer fazer sentido. Os carros na rua faziam mais barulho do que de costume. “Estou recobrando meus sentidos aos poucos”, pensou ao ouvir o som do movimento do lado de fora do quarto. E reforçou a idéia quando as cores voltaram a avivar-se em volta de seus olhos, embora não pudesse dar forma a elas.

Esperou – e esperar era algo que fazia bem – por mais alguns segundos para que pudesse interpretar o que sua visão tentava lhe mostrar. O som dos carros fazia-os parecer mais rápidos. E fortes. Talvez imbatíveis naquele momento. As cores ganhavam forma, finalmente.

Por fim, viu os tons de verde, vermelho e azul desenharem uma imensidão de flores, que caiam sobre ela aos montes, formando um desenho sem significado sobre sua silhueta, que era então o centro de órbitas que não podia alcançar.

As flores ganhavam novos coloridos, quando sentiu seu corpo puxado, na velocidade dos carros que aceleravam do lado de fora do quarto. Não sabia onde caía, mas não se importava com a ausência do chão. Jamais se preocupara com o solo em que pisava.

E quando as últimas flores lhe caiam sobre a face, ouviu alguém dizer, ao lado de seu ouvido: “Ide em paz”. E não fez tanta diferença para quem já era morta em vida.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Valores (?) no Trem

Pois é, pessoal. De vez em quando eu escrevo uns contos, pra desenvolver a escrita e expressar algumas idéias. Abaixo segue um acerca da utilização da máscara dos gestos "bons" em relação a suas motivações. eu geralmente descrevo mais elementos e não deixo muita coisa subentendida, mas este conto, em especial, tem mais pontos a deduzir. Segue abaixo:


Entrou rapidamente assim que a porta do metrô abriu. A cintura larga e a pele lisa davam a impressão de menos idade em relação ao que o cabelo totalmente branco e curto aparentava. Passou pelo banco reservado para idosos e fez uma careta de irritação. Havia dois jovens sentados, um rapaz com estilo de surfista e uma garota rechonchuda de bochechas rosadas e saudáveis. A preocupação com a falta de educação dos jovens impediu-o de reparar nos três lugares vazios que havia no vagão. Não se dirigiu aos que indevidamente ocupavam aquele banco, restringindo-se a transparecer sua irresignação em sua expressão facial.

Pouco depois, um outro senhor, esquálido e visivelmente fraco – o que era corroborado pela grande curvatura em suas costas – passou diante dos jovens. Os outros três lugares não estavam mais vagos, e os olhos do envelhecido homem dançavam buscando uma vaga para seu corpo, que continuava a mover-se arrastadamente.

Foi quando uma mulher obesa, cujas feições lembravam a de um porco, que estava sentada em frente ao senhor de cabelo totalmente branco, levantou-se e gentilmente cedeu seu lugar ao velho. De tão caquético, ele mal teve forças para agradecer, sentindo o alívio de escorar suas ancas já sem músculos em um banco qualquer.

O homem de cabelos brancos imediatamente iniciou um discurso venerando a atitude responsável e educada da mulher com cara de porco, ressaltando a falta de valores que assola a juventude dos novos tempos. O tom do discurso elevava-se juntamente com a aceleração do trem. A mulher reiterou as palavras que ouvia, dizendo que havia nascido em uma família marcada pela boa educação e pelos costumes humanitários, e seus gestos eram tão somente efeitos da boa criação que teve.

A jovem rechonchuda, atenta, ergueu-se e parou em pé, na frente do outro jovem, que dirigiu a ela um olhar de indagação. "Estão falando de nós", respondeu. O jovial rapaz, ao compreender a resposta, ergueu-se imediatamente e ambos permaneceram em pé, ao lado do banco reservado para idosos.

O banco seguiu vazio, e assim permaneceu até que o trem chegasse à última estação, sob os ruídos do discurso exemplar do senhor de cabelos brancos atrapalhando a melodia das rodas em atrito com os trilhos.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Um outro juiz é possível

Pessoal, só para, acredito eu, acrescentar um pouco de realidade fantasiosa (?), segue a transcrição de uma sentença de um juiz de Uberaba sobre a obrigatoriedade do voto. Muitíssimo interessante, pois ele não fez nada contra a posição que ocupa, pelo contrário, fundamentou com argumentos jurídicos sua decisão. Só resta saber se ele será penalizado pela corregedoria... Mas o interessante, que me veio agora, é que eu não vi isso ser noticiado na "grande imprensa", me avisem se eu estiver errado!
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Autos n. 387/2006
Vistos, etc...

O processo eleitoral finalizado em 29 de outubro deste ano foi marcado por inegável descrença por parte do eleitorado nacional. Tudo em razão dos inúmeros e mais recentes escândalos perpetrados pelos políticos brasileiros (“Mensalão”, “sanguessugas”, “dossiê tucano” e muito mais)!

Referida situação de descrença generalizada, não pode ser desprezada. Com efeito, “A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. A sua essência reside na sua vigência, ou seja, a situação por ela regulada pretende ser concretizada na realidade. Essa pretensão de eficácia (Geltungsanspruch) não pode ser separada das condições históricas de sua realização, que estão, de diferentes formas, numa relação de interdependência, criando regras próprias que não podem ser desconsideradas. Devem ser contempladas aqui as condições naturais, técnicas, econômicas, e sociais. A pretensão de eficácia da norma jurídica somente será realizada se levar em conta essas condições. Há de ser, igualmente, contemplado o substrato espiritual que se consubstancia num determinado povo, isto é, as concepções sociais concretas e o baldrame axiológico que influenciam decisivamente a conformação, o entendimento e a autoridade das proposições normativas.” (Konrad Hesse, A Força Normativa da Constituição, Tradução de Gilmar Ferreira Mendes, Sergio Antonio Fabris Editor, Porto Alegre, 1991, p. 14/15).

Fiel à lição de HESSE, portanto, urge promover um exame mais acurado dos pleitos de justificativas, considerando o número crescente de eleitores ausentes e, ainda, igual crescimento daqueles que só compareceram às urnas para consignar votação sem valor (brancos e nulos).

Mais ainda, necessário promover melhor e mais adequada interpretação à regra constitucional que obriga o cidadão brasileiro ao voto. É que, à evidência, referida obrigação colide com outras garantias constitucionais.
Com efeito, nos termos do art. 1º, da CF, que inaugura o Título “Dos Princípios Fundamentais”, “A República Federativa do Brasil”, formada pela união de Estados, Municípios e Distrito Federal, “constitui-se em Estado Democrático de Direito”, tendo como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa do homem, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.

O “Estado Democrático de Direito”, mormente em face da realidade atual (confira com HESSE), não está conforme a regra constitucional que obriga o cidadão brasileiro ao voto.

Não bastasse isto, aludida obrigatoriedade também afronta sobremaneira certas garantias fundamentais do cidadão brasileiro (todas de aplicação imediata). Dentre elas, ressalto: a) a que consagra a liberdade de manifestação de pensamento (inciso IV); b) aquela que dispõe sobre a liberdade de consciência e de crença (inciso VI); c) a que ressalta a liberdade de convicção filosófica ou política (inciso VIII) e; d) ainda, até mesmo a que sedimenta a liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz (inciso XV).

O princípio fundamental da democracia, referendado pelas garantias fundamentais gizadas no item anterior, não permite mais que se imponha penalidade (multa) àquele que, por sua vontade, resolveu ausentar-se do processo eleitoral.

A norma constitucional que impõe obrigatoriedade de voto para os maiores de 18 anos (art. 14, I), sem sombra de dúvida, não está conforme os ditames referidos, sendo irrespondível a presença in casu de uma certa “inconstitucionalidade interna”.

A tese da inconstitucionalidade interna (Bachof), bem sei, não encontra amparo entre nós (doutrina e jurisprudência). Isto não significa, porém, que esteja vedada a possibilidade de interpretação consentânea com a realidade social e para efeito de harmonizar textos que, a princípio, encerram mandamentos conflitantes.
Ainda quanto ao conflito entre as normas, também foi violada a regra da isonomia constitucional (art. 5º, caput, da CF). Por ela, haveria igual “inconstitucionalidade interna”, conquanto está previsto no mesmo texto matriz tratamento desigual para analfabetos, adolescentes e setuagenários (confira alíneas “a”, “b” e “c”, do inciso II, do art. 14).

Mais ainda, ao dispor sobre a obrigatoriedade do voto, a norma impõe forma de “prisão comarcal” aos domingos, em total violação ao princípio da dignidade humana e ao sagrado direito de ir e vir do cidadão brasileiro.

Ante todo o exposto, inegável a presença de flagrante “inconstitucionalidade interna” que, todavia, não admite declaração por controle difuso (correção do impasse, conforme os doutos, só seria possível por meio de Emenda Constitucional). Referido empeço, porém, não inibe a possibilidade de uma interpretação harmonizadora, mormente com apoio na regra da proporcionalidade (“princípio dos princípios”, segundo Willis Santiago Guerra Filho).

Conforme o insuperável ROBERT ALEXY, “Los princípios son mandatos de optimización con respecto a las posibilidades jurídicas y fáticas. La máxima de la proporcionalidad en sentido estricto, es decir, el mandato de ponderación, se sigue de la relativización con respecto a las posibilidades juridicas. Si una norma de derecho fundamental con carácter de principio entra en colisión con um principio opuesto, entonces la possibilidad jurídica de la realización de la norma de derecho fundamental depende del principio opuesto. Para llegar a una decisión, es necesaria una ponderación en el sentido de la ley de colisión. Como la aplicación de principios válidos, cuando son aplicables, está ordenada y como para la aplicación en el caso de colisión se requiere una ponderación, el carácter de principio de las normas iusfundamentales implica que, cuando entran en colisión con princípios opuestos, está ordenada una ponderación. Pero, esto significa que la máxima de la proporcionalidad en sentido estricto es deducible des carácter de principio de las normas de derecho fundamental.” (ALEXI, R. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1993, p. 112).
Trocando em miúdos, pela regra da proporcionalidade, harmonizadas as normas constitucionais em conflito, revendo posição anterior, não estou mais convencido da necessidade de penalizar aquele que, por qualquer motivo, resolveu ausentar-se do processo eleitoral.

Por ausente, ademais, por extensão, poderia ser considerado aquele que, embora comparecendo, o fez para consignar voto nulo ou branco. Se assim é, considerando a premissa do “voto secreto” (cláusula pétrea), como seria possível identificar tal eleitor para, igualmente “ausente” (isonomia em sentido material), impor-lhe mesma penalidade?!

Ex positis, como não encontro no Texto Maior a determinação para que se imponha penalidade ao eleitor faltoso, forte nas “inconstitucionalidades internas” referidas acima, com olhos postos na realidade social em vigor e, ainda e, principalmente, com amparo no princípio da proporcionalidade, ouso inovar e rever minha posição anterior para, independentemente da motivação e comprovação, isentar de reprimenda pecuniária a eleitora ausente VIRGÍNIA DE SOUSA FREITAS, extensivos os efeitos desta aos justificantes nominados nos autos conexos de números 388/2006, 389/2006, 390/2006, 391/2006, 392/2006, 393/2006, 394/2006, 395/2006, 396/2006, 399/2006, 400/2006, 401/2006, 402/2006, 403/2006, 404/2006, 407/2006, 408/2006, 409/2006, 410/2006, 411/2006, 412/2006, 413/2006, 414/2006, 415/2006, 416/2006, 417/2006, 418/2006, 419/2006, 420/2006, 421/2006, 422/2006, 423/2006 e 424/2006 e que deverão ser apensados a estes. Sem custas.
P. R. Intime-se.
Uberaba, 08 de novembro de 2006.

terça-feira, novembro 14, 2006

Tenha uma vida digna meu filho, como mamãe te ensinou...

O despertador ao lado da cama bate seis e quarenta e cinco. Tenho mais seis minutos para ficar deitado sem nenhum objetivo até ter o ímpeto de levantar e botar uma roupa. Mais um dia. Trabalho, casa e cama. Sempre me perguntei se a liberdade realmente existe pois sigo a mesma rotina há algum tempo e o costume acaba me forçando a recriá-la diariamente. Não vou reclamar, meu trabalho é bacana, eu gosto de lidar com pessoas. Minha casa é aconchegante e minha cama eu nunca parei para analisar já que é difícil pensar com o sono que chego após um dia inteiro de trabalho e vagabundagem. Sempre penso sobre o ser livre mesmo assim, não consigo evitar.

Começo minha caminhada até a parada de ônibus e me pergunto “por que fazer isso novamente?”. Na parada as mesmas pessoas, um careca alto indo pro colégio, um anão de terno que deve trabalhar em algum lugar fora do centro da cidade, uma mulher gorda e mal cuidada que insiste em usar camisetas curtas para que todos vejam sua imensa banha balançar e três amigos falando de futebol. Nunca falei com nenhum deles mas os considero parte da minha rotina pela identificação de horário e local que eles tem comigo. De fato, temos algo em comum.

Na viagem, que dura bons trinta minutos, coloco uma trilha sonora para o dia no meu tocador de mp3. Aliás, este foi um dos investimentos mais lucrativos que fiz. Com algo que me agrada a escutar posso ignorar as conversas banais e até a banha da gorda balançando (ela sempre faz questão de pegar o mesmo ônibus). A ida é sempre de pé, não posso nem ler algum livro da Ayn Rand ou do Bukovisk, o tempo cultural do dia normalmente é escasso.

Mais um dia igual. Sem lembrança, sem relevância. O mesmo dia dos meus últimos meses. Até que chega a outra manhã. São seis e quarenta e cinco, tenho mais alguns minutos para ficar acordado sem nenhum objetivo...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Um Artista Popular...

Caros, como há muito tempo eu não tenho dado um sinal de vida claro aqui no blog, resolvi, ao invés de esperar uma inquietação que me motivasse de fato a escrever, tomar outro rumo “editorial”. A intenção, muito mais do que comentar ou criticar algo, é fazer uma reflexão. É um exemplo que dou, e não sei se vocês concordam, de que um outro homem é possível.

Essa entrevista pode ser lida na íntegra em
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1240476-EI6596,00.html Copiei as perguntas e as respostas como estão nesse endereço.


Há alguns anos eu era editor na Carta Capital, pautei e saiu aquela foto de vocês dois na última página. Leitores, mesmo alguns colegas, estranharam: "Mas como, Zezé de Camargo e Luciano em Retratos Capitais?" e eu respondia "o país inteiro gosta, qual é o problema?" De lá pra cá, aconteceu alguma coisa no Brasil, e o que aconteceu com vocês tem a ver também com filme. Vocês romperam uma bolha que tinha aí?
Eu sempre me considerei um vanguardista, vamos dizer assim, dentro da música sertaneja, porque sempre caminhei no sentido contrário ao óbvio, sempre gostei dessa coisa meio atrevida de brigar com os conceitos. Quando você briga com conceitos você acaba confrontando com o pré-conceito. Quando você encara eles, as pessoas que acham que você está fora do "conceito" certo e é aí que eles demonstram o preconceito deles. Acho que foi saudável isso para nós. Essa história do filme, de lidar com esse pessoal.

(aqui Zezé fala sobre a campanha pró-Lula que fez em 2002)

Já votou em um, já votou em outro, é isso que você quer dizer?

Isso. Tenho amigos de vários partidos. Eu voto nas pessoas, na plataforma de cada um. Sou um cara suprapartidário, mesmo porque partido aqui não tem ideologia nenhuma, nós temos um emaranhado de partidos, mais de trinta partidos no Brasil, você não sabe quem é quem. O cara fala no primeiro turno, xinga o outro de bandido, de ladrão, depois tá lá apoiando, você não pode entrar muito nessa conversa. Eu voto nas pessoas, mas sou amigo de vários outros políticos e outros partidos que fazem oposição a Lula. Tenho amigos dentro do PSDB também.

(aqui ele fala sobre o que acreditava no início da carreira, em que ele dizia que, por exemplo, gravar com Chico Buarque era besteira como uma defesa, pois achava que não iria acontecer)

É aquela história da raposa e das uvas verdes......
É, talvez fosse isso também. Tem uma frase que eu carrego comigo, eu digo que 'o ser humano tem a obrigação de enriquecer'. Se não conseguir enriquecer materialmente, pelo menos como ser humano, espiritualmente. Isso é primordial para o ser humano. Eu já cruzei com tantas pessoas lá do interior que nunca puseram uma botina no pé, e que são tão ricas espiritualmente. Um exemplo, o meu avô, o pai do meu pai, era um velhinho riquíssimo ao ponto que viu minha vó morta assim, todo mundo chorando, e ele ficou olhando pra ela... Ele era analfabeto de pai e mãe - meu pai já é humilde e ele é dez vezes mais humilde que meu pai - e ele não chorava.

E aí?
Aí eu falei assim: "Vô, o senhor não está chorando, o senhor não vai ficar com saudade da vó?". Ele falou: "Não meu filho, sabe por que eu não estou chorando por ela? Eu nunca xinguei, eu nunca briguei com ela, eu nunca ofendi, eu nunca fiz um mal pra ela. Então, eu sei que ela tá indo embora e eu fiz tudo o que eu podia fazer de bem pra ela em vida, então não estou em dívida com ela. Ela está indo porque tem que ir mesmo, e eu também vou um dia. A gente só chora a morte de alguém porque você sabe que você ficou em falha com aquela pessoa, você podia ter feito algo mais e não fez. Eu não fiquei devendo nada pra ela, ela está indo porque eu sei que ela tem que ir, daqui a um tempo eu vou também. Eu não tenho dívida com ela, nem ela comigo, então, nós estamos indo juntos, ou não, separados, mas a alma está junto". Isso que eu aprendi com meu velho, com meu avô, com meu pai, são coisas que a gente tem que carregar com a gente.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Para o meu próprio bem e minha felicidade, diga ao povo que posto!

Sempre me perguntei sobre algumas decisões “justas” de um tribunal. Creio que é interessante ter um poder para que se faça justiça, o problema é que os princípios regentes seguem um padrão homogêneo e não consideram as reais convicções do indivíduo em questão. Assim, as decisões são tomadas por puro costume e antes mesmo das alegações, desconsiderando o tão falado “caso a caso”.

Exemplifico. Quando um trabalhador, homem livre, faz um acordo de trabalho com seu chefe que está fora dos padrões descritos na legislação e ao perder o emprego entra na justiça exigindo os direitos pelos quais nunca fez questão de ter, é justo que ele ganhe o processo? A constituição existe, isto é fato. Mas existe o livre arbítrio para concordar ou não com a constituição, requisitar ou abdicar dos direitos, partir de valores e padrões diferentes, enfim, concordar ou discordar com o que quer que seja. Neste caso, será que existe melhor base de julgamento do que as convicções e a aceitação do próprio indivíduo? E se a empresa resolver entrar na justiça alegando “falsidade ideológica”, por exemplo, ela terá algum direito?

Colegas futuros advogados (isso é lindo!), quem escreve é um leigo com bom senso que certas vezes quer provocar o debate racional e dar uma alternativa às imposições do senso comum. Devido a contradições como esta, posso concluir que estão sendo premiados alguns parasitas sem convicção própria e consumidos alguns empresários e trabalhadores conscientes dotados de capacidade.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Arquivo confidencial (Brincadeira meu!)

Passo Fundo, 4 de dezembro de 1985. Nasce um “ser livre”. Como este pequeno humano não pode simplesmente chamar-se de “humano”, dão a ele um nome: Rafael. Alguns dias depois, o pequeno ser é batizado. O choro é inconsciente mas já exprime seu descontentamento com a água benta e o óleo colocados em sua testa sem sua aprovação. No natal, encarna o “menino Jesus” no presépio da igreja. As velhinhas até hoje o cumprimentam por tal fato, deve ter sido uma atuação impecável.

Alguns anos passaram, Rafael, católico desde os 5 dias de vida, começa a ganhar uniformes daquilo que dizem ser seu time de coração, o Internacional. Ele gostava de futebol e via todos necessitarem torcer ou secar alguma coisa, era o assunto das ruas, também precisava fazer. Quando foi ao Beira-rio em 1992 e viu a explosão de alegria da multidão após o gol do título feito por Célio Silva, além de quase morrer pisoteado, admite-se um colorado fervoroso.

Nas reuniões e comemorações partidárias de seu pai, cria-se a imagem de um pequeno socialista apontado por muitos como futuro vereador, apesar da pouca idade. Ele não entendia o porquê das comemorações e dos rótulos, apenas seguia ou jogava vídeo game em seu quarto para passar o tempo e não ter que ouvir nada. Rafael também não sabia por que os socialistas mijavam fora da privada depois de grandes. Foi descobrir que era o excesso de bebida (ou a falta de convicção).

Na escola nunca aprendeu a recortar. Diziam que era normal não o fazer. Quando errava o português as professoras fingiam não ver por fazer parte da didática de ensino baseada na premissa de que errar é normal. Então aprendeu a não fazer direito e gostou de ser medíocre por algum tempo.

As missas de domingo ainda o atormentavam. Detestava aquela velharia e aquele Deus que ele não podia apertar a mão. Seus pais forçaram o garoto livre a fazer a primeira eucaristia e a crisma a contra gosto. Bem ou mal, aos 10 anos ele começava a saber o que queria realmente. Ao mesmo tempo pensava que já era católico, colorado e socialista além de aprender a errar na escola.

Hoje, ele tem muito mais consciência do que no início de sua vida, tem idéias próprias e tenta não buscar apoio em algo criado e forjado pelo senso comum. Infelizmente não pode se “desbatizar”, não conseguiu deixar de ser colorado (ao menos não é anti-gremista) e viu que o socialismo é só uma forma de conseguir reunir pessoas em torno de uma idéia, algo para dar sentido a uma vida. Mas ao menos agora Rafael tem consciência do valor individual e está sempre aprendendo a desaprender.