quinta-feira, junho 20, 2013

Protesto Mediocridade Brasil

A erupção da mediocridade através do disfarce coletivo da mudança nunca me espantou tanto. A cegueira é tanta que chega a ser inacreditável a crença na transformação, no projeto “muda Brasil”, sem nenhum foco específico, sem objetivo. Na verdade, tem-se no estado a figura que simboliza a projeção da imagem dos próprios manifestantes. O que as pessoas estão criticando na verdade é sua própria imbecilidade, sem se dar conta disso, é claro. Mais fácil colocar a culpa em algo comum a todos e sem dono do que em nós mesmos, não é?

Começou com as passagens de ônibus. É engraçado como o preço do tomate e do feijão aumenta absurdamente e ninguém fala nada, mas quando vem a passagem, todo ano é a mesma coisa. Afinal, sem comida vivemos e sem passagem, não. Digo passagem por que ônibus sempre tivemos e teremos, independentemente do valor monetário em questão. Vi absurdos como dirigentes dos movimentos citando o “direito de ir e vir” da constituição como argumento para o transporte gratuito. Por favor, ninguém tem pernas para ir e vir? O transporte não é, em regra, um dever do estado. Convencionou-se isso com o tempo e é bom ter esta opção, claro. Segundo esta premissa ridícula, o avião também deve ser público então? Quero ir para a Tanzânia e utilizar o “direito de ir e vir” da constituição. ME DÊ A PASSAGEM BRASIL!

Ainda sobre a passagem, trata-se de uma variável econômica. Para quem não sabe, a economia foi criada por que não existem recursos (grana / produção / trabalho / demanda) ilimitados. Logo, a premissa básica da economia é a escassez de recursos, de modo que ela exista para distribuir da melhor forma os recursos disponíveis. Logo, se baixarmos a passagem, como está ocorrendo nas diversas capitais, para manter a receita do Estado fatalmente vamos pagar de outra forma. Para termos transporte gratuito, vamos pagar a passagem em algum imposto de itens de consumo que adquirimos. Ou seja, de forma direta ou indireta, pagamos todo o tipo de bem público com nossos gastos pessoais. Se eu fosse o Estado, aumentava a tarifa da cerveja, dos botecos e outros itens de consumo supérfluos dos manifestantes e mantinha a passagem como está. Talvez seja isso que ocorra.

Mas meu impacto maior veio após isso, no segundo momento. Pessoas reivindicando saúde e educação, por exemplo, sem fazer a menor ideia do que são estes conceitos de forma mais ampla. Será que saúde são hospitais e SUS? Saúde não é a alimentação diária, uma rotina de esportes, dormir bem, entre outros? Esta parte é nossa, não é? E estamos fazendo efetivamente a nossa parte? E educação, é escola ou vem de casa? Nossos pais não precisam dar educação é dever do Estado então? Aliás, quantos dos manifestantes efetivamente utilizam o SUS e estudaram em colégios públicos, se saúde e educação se resumem a isso? Se não sabem o que isso significa, imagina se vão propor alguma solução para isso. Afinal, alguém ouviu alguma solução aos “problemas” vinda dos protestos?

Pior do que isso, só a força vinda da mídia e dos formadores de opinião abalizando os protestos como ato de coragem e de uma mudança social. Para mim, é exatamente o oposto: é um ato de fuga de si mesmos e de mudança para pior, já que agora protestos não necessitam de motivos reais além do amontoamento de pessoas em torno de um “bem comum” subjetivo que inexiste na prática.

A conclusão básica é que tanto o Estado quanto estes protestos são dois lados da mesma moeda. O Estado passa a mão na cabeça dos manifestantes para não tomar medidas impopulares e os manifestantes seguem fazendo solicitações vazias, sem propostas e embasamento informativo, através da coletividade, da moda. Ambos não tem conceitos formados e, portanto, opiniões válidas a respeito de qualquer problema, infelizmente.


A finalidade dos protestos são os próprios protestos e não as soluções reais para os problemas. Enquanto não olharmos para nós mesmos, não há manifestação válida. Temos que ter consciência da nossa falta de coerência antes de exigir coerência de outras estâncias.

Minha solução é simples: olhe a si mesmo antes de qualquer coisa. Enxergue a sua saúde e educação. Construa algo antes de exigir qualquer construção. Quem constrói alguma coisa em vida, sabe que as coisas não funcionam assim. Infelizmente, nem tudo é culpa do Governo.

2 Comments:

At quinta-feira, junho 20, 2013, Anonymous Gustavo Parise Cassel said...

Realmente, ninguém se manifesta contra si próprio.

Foi boa essa em relação à educação, daqui a pouco os tais manifestantes vão ter que exigir inteligência do Estado e, para isso, pararão o Brasil e cantarão versinhos de Chico Buarque à esmo.

Vou fazer questão de pesquisar quantos votos nulos/brancos a cidade do RJ teve na última eleição. Será que é superior ou inferior ao número de manifestantes na rua nessa semana?

 
At quinta-feira, junho 20, 2013, Anonymous Natacha said...

É por isso que estou convicta de que não existem mais movimentos sociais. São poucos que realmente pensam coletivamente, pois todos estão preocupados em garantir o seu espaço no meio coletivo em prol do seu status individual de "bom moço". Se todos realmente pensassem de forma coletiva e consciente, certamente não teríamos tantas reclamações...

Penso que devemos contestar constantemente o que acontece ao nosso redor para propormos mudanças e realizarmos feitos que promovam evoluções a nossa espécie.

Não podemos esquecer que existem espaços que propõe o empoderamento do controle social: conferências, coletivos, conselhos, encontros, que acontecem periodicamente e que, muitas vezes, encontram-se esvaziados. E aí me questiono: porque manifestações são em massa e reuniões são esvaziadas? Porque manifestação não demanda necessariamente uma reflexão e/ ou algum tipo de resolução, só o fato de "falar mais alto" já basta. É uma ação pontual, que pode dar em tudo ou em nada. Reunião toma tempo,cansa,tem que pensar e se comprometer, e comprometimento com algo que não é do âmbito pessoal já incomoda porque reduz o tempo do sujeito para os seus afazeres individuais.

Sim, somos individualistas, conscientemente ou inconscientemente. Temos que admitir que prezamos o nosso bem estar individual ao bem estar coletivo, deixemos de ser hipócritas. Mas a hipocrisia é tanta que personificamos o governo para projetar nele a culpa do "não agir, não fazer", e assim não temos mais responsabilidade sobre nada. "tudo" é do governo, "nada" é nosso.

Movimento social para mim é um grupo de pessoas conscientes e pensantes que se mobiliza para gerar mudanças,partindo do seu microssistema, para então atingir o macrossistema.

Onde estão estas pessoas?

 

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