segunda-feira, junho 24, 2013

Nós, os representantes dos representantes



Uma breve nota acerca do pronunciamento “histórico” de nossa presidenta. Além de ouvir o pronunciamento e ouvir uma breve repercussão no Jornal Nacional, não li mais nada sobre o assunto, por isso, a opinião aqui emitida é rasa. Na verdade, não é uma opinião, mas uma observação.

A reforma política há muito vem sendo considerada necessária ao país, sendo, inclusive, promessa de campanha de muito dos representantes eleitos pelos cidadãos revoltados brasileiros. E tais representantes – analisando-os de forma teórica – constituem-se em pessoas dignas, dotadas de conhecimento e vontade de trabalhar pelo povo.

No entanto, nenhum governante ou parlamentar, até o momento, teve coragem de propor uma reforma profunda, que acabasse com privilégios de seus pares e, também, que causassem mudanças a cidadãos acomodados com o status quo que gozam diante dessa precária representatividade.

Agora, está em pauta a realização de plebiscito para a constituição de uma assembléia constituinte para tratar do tema.

Tal como dois mais dois são quatro, a união dos parágrafos precedentes só me leva a uma conclusão: por que a população precisa de tantos representantes se os mesmos só atuam quando a mesma população que os elegeu sai às ruas para pedir que eles façam o trabalho deles. E o que é pior, transferem à população a responsabilidade das decisões correlatas aos cargos nos quais estão investidos. 

É a terceirização da responsabilidade governamental.

'Más'nifestações 'Paz'íficas.



O problema em tentar se analisar uma manifestação como a que está(va) ocorrendo no Brasil nesse atual momento é escolher o foco. Inobstante a profusão de temas inseridos nessa manifestação passíveis de análise (de louváveis a miseráveis temas), prefiro, nesse momento inicial, falar um pouco sobre tudo o que vejo e penso e, depois, nas próximas digressões solitárias (se houver), aprofundar, inclusive com dados concretos, cada tema.

Desde o início, ou melhor, desde antes essa manifestação começar, eu já tinha em minha mente que somente a manifestação pacífica não leva a lugar algum. Posso dizer já de pronto que a Revolução Francesa, reconhecida pelo triunfo do lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, só se concretizou porque o povo invadiu o Palácio da Bastilha e assassinou o casal de monarcas franceses. E agora os defensores de todos os direitos assegurados pela Revolução Francesa dizem que a violência não é concebível como meio de protesto? Alguma coisa para mim não resta bem digerida quando vejo as manifestações de políticos e mesmo da mídia em geral repudiando a violência. Tudo bem, não a incitem, mas pelo menos a analisem, não caindo só no chavão de referir que uma “minoria de vândalos” foi responsável por isso e aquilo.

Não, não estou defendendo a política da violência como a que vem sendo realizada por marginais ao final de cada manifestação. O que eles fazem é crime, e prefiro não ingressar em discussão mais profunda sobre eles. Voltando à política da violência legítima, tal como a exercida pelos marselheses, entendo que ela não é a solução, mas sem ela, o povo, que erra o alvo a cada eleição, fica desarmado. Sim, eu acho errado destruir as propriedades privadas, mas, como disse, não é esse tipo de violência que defendo.
Muitos políticos, antes que a “força popular” se aproximasse de seus bunkers (ops, patrimônio público), apoiavam a manifestação, dizendo tratar-se de um pleno exercício da democracia, um exemplo a ser seguido de exercício legítimo da cidadania. Porém, percebendo que a turba já não estava mais questionando a longínqua ganância dos empresários do setor de transporte público, começaram a mudar seu discurso, ressaltando a necessidade das manifestações serem pacíficas. Não parece estranho?

Manifestação pacífica... manifestação pacífica... de cara, lembro das recentes manifestações pacíficas sobre a nomeação do dep. federal Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa. Lembram? Aquilo era ou não era manifestação pacífica? Como não depredaram nada, vamos dizer que era uma manifestação pacífica. Tinha apoio popular? Tinha. Os manifestantes utilizaram a via adequada? Sim, eles participavam das sessões até então públicas para a definição do presidente daquela Comissão. No que resultou essa manifestação? Intervenção dos seguranças do congresso, à força, contra grupos de homossexuais que, convenhamos, não causariam nenhum estrago ao patrimônio público. Além disso, as sessões até então pública, tornaram-se restritas, pra não dizer secretas. E o nobre deputado, nada legitimamente indicado para ocupar aquele cargo, assumiu, defendendo a sua nomeação (que foi política) porque foi eleito legitimamente (graças a um nicho religioso que nem de longe representa a maioria da população brasileira) e hoje, recentemente, o ilustre deputado conduziu a aprovação da cura gay, manobra unilateral e totalmente viciada pelas convicções religiosas pessoais do parlamentar, esquecendo de todos os princípios e valores insculpidos na Constituição Federal, inclusive de que o Brasil é um estado laico que privilegia, dentre outras liberdades, a sexual.

Se não fosse a violência e a iminência de uma intervenção federal ou militar, não haveria a redução do valor das passagens, mas a população continuará acreditando que as manifestações pacíficas foram a motivação para o que queriam. É por isso que não consigo simpatizar com esses manifestantes pacíficos nesse momento. Tento acreditar, no entanto, que essas manifestações serviram para unir vozes antes solitárias (ou só imaginárias), vozes que, no entanto, não se uniram às vozes da coletividade, mas sim daqueles que perceberam a desproporcionalidade entre a “arma” utilizada e o “alvo”. Seria como utilizar uma bomba atômica para matar uma mosca. Espero que essa bomba utilizada não fosse a única que temos. De qualquer forma, acho que reavivar o “um outro homem” já é um início de construção.

quinta-feira, junho 20, 2013

Protesto Mediocridade Brasil

A erupção da mediocridade através do disfarce coletivo da mudança nunca me espantou tanto. A cegueira é tanta que chega a ser inacreditável a crença na transformação, no projeto “muda Brasil”, sem nenhum foco específico, sem objetivo. Na verdade, tem-se no estado a figura que simboliza a projeção da imagem dos próprios manifestantes. O que as pessoas estão criticando na verdade é sua própria imbecilidade, sem se dar conta disso, é claro. Mais fácil colocar a culpa em algo comum a todos e sem dono do que em nós mesmos, não é?

Começou com as passagens de ônibus. É engraçado como o preço do tomate e do feijão aumenta absurdamente e ninguém fala nada, mas quando vem a passagem, todo ano é a mesma coisa. Afinal, sem comida vivemos e sem passagem, não. Digo passagem por que ônibus sempre tivemos e teremos, independentemente do valor monetário em questão. Vi absurdos como dirigentes dos movimentos citando o “direito de ir e vir” da constituição como argumento para o transporte gratuito. Por favor, ninguém tem pernas para ir e vir? O transporte não é, em regra, um dever do estado. Convencionou-se isso com o tempo e é bom ter esta opção, claro. Segundo esta premissa ridícula, o avião também deve ser público então? Quero ir para a Tanzânia e utilizar o “direito de ir e vir” da constituição. ME DÊ A PASSAGEM BRASIL!

Ainda sobre a passagem, trata-se de uma variável econômica. Para quem não sabe, a economia foi criada por que não existem recursos (grana / produção / trabalho / demanda) ilimitados. Logo, a premissa básica da economia é a escassez de recursos, de modo que ela exista para distribuir da melhor forma os recursos disponíveis. Logo, se baixarmos a passagem, como está ocorrendo nas diversas capitais, para manter a receita do Estado fatalmente vamos pagar de outra forma. Para termos transporte gratuito, vamos pagar a passagem em algum imposto de itens de consumo que adquirimos. Ou seja, de forma direta ou indireta, pagamos todo o tipo de bem público com nossos gastos pessoais. Se eu fosse o Estado, aumentava a tarifa da cerveja, dos botecos e outros itens de consumo supérfluos dos manifestantes e mantinha a passagem como está. Talvez seja isso que ocorra.

Mas meu impacto maior veio após isso, no segundo momento. Pessoas reivindicando saúde e educação, por exemplo, sem fazer a menor ideia do que são estes conceitos de forma mais ampla. Será que saúde são hospitais e SUS? Saúde não é a alimentação diária, uma rotina de esportes, dormir bem, entre outros? Esta parte é nossa, não é? E estamos fazendo efetivamente a nossa parte? E educação, é escola ou vem de casa? Nossos pais não precisam dar educação é dever do Estado então? Aliás, quantos dos manifestantes efetivamente utilizam o SUS e estudaram em colégios públicos, se saúde e educação se resumem a isso? Se não sabem o que isso significa, imagina se vão propor alguma solução para isso. Afinal, alguém ouviu alguma solução aos “problemas” vinda dos protestos?

Pior do que isso, só a força vinda da mídia e dos formadores de opinião abalizando os protestos como ato de coragem e de uma mudança social. Para mim, é exatamente o oposto: é um ato de fuga de si mesmos e de mudança para pior, já que agora protestos não necessitam de motivos reais além do amontoamento de pessoas em torno de um “bem comum” subjetivo que inexiste na prática.

A conclusão básica é que tanto o Estado quanto estes protestos são dois lados da mesma moeda. O Estado passa a mão na cabeça dos manifestantes para não tomar medidas impopulares e os manifestantes seguem fazendo solicitações vazias, sem propostas e embasamento informativo, através da coletividade, da moda. Ambos não tem conceitos formados e, portanto, opiniões válidas a respeito de qualquer problema, infelizmente.


A finalidade dos protestos são os próprios protestos e não as soluções reais para os problemas. Enquanto não olharmos para nós mesmos, não há manifestação válida. Temos que ter consciência da nossa falta de coerência antes de exigir coerência de outras estâncias.

Minha solução é simples: olhe a si mesmo antes de qualquer coisa. Enxergue a sua saúde e educação. Construa algo antes de exigir qualquer construção. Quem constrói alguma coisa em vida, sabe que as coisas não funcionam assim. Infelizmente, nem tudo é culpa do Governo.

sábado, setembro 11, 2010

Um Resumo sobre a história

Em tempos de lamentações ou comemorações do 11 de setembro, sempre acabo me questionando sobre o valor da história, tanto no seu estudo, por mais aprofundado que seja, quanto na tentativa de passar a informação a alguém. É incrível como a comunicação em si está muito ligada ao ato primário de expor a mensagem e no ato de receber esta mesma mensagem. Estes dois meios simples acabam, de certo modo, sendo determinantes para que a realidade não exista em qualquer diálogo sobre o passado, basicamente. A história em si é algo no passado transposto ao presente. Mas até que ponto é possível contá-la fielmente ou recebê-la sem interpretação? Praticamente impossível fazê-lo.

Qual o modo mais fiel de se contar uma história? Creio que é contar um fato próprio a respeito do cotidiano, em que a própria pessoa é o agente e conta a outrem. Creio que é o que pode se chamar de mais de acordo com o que "realmente aconteceu". Mas me pergunto: é possível levar a alguém os fatos tais quais como são? Dificilmente. Se nesta escala pequena e autobiográfica não conseguimos recontar um diálogo tal como foi ou uma história sem aumentar ou esquecer dos detalhes, imagine na escala de um 11 de setembro, por exemplo.

Por mais informação que podemos ter hoje, ao menos em volume e diversidade, chegamos sempre a uma conclusão que vira história, vai pros livros e é contada nos colégios. Neste caso, um ato terrorista, liderado por Osama Bin Laden em que dois aviões bateram nas torres do World Trade Center, nos Estados Unidos, e foram responsáveis pela queda dos prédios. Este é o lado A. Um dos lados B da conta de que o próprio governo americano foi responsável pelo ataque para ter o apoio da população na guerra que fez posteriormente, simplesmente por fins comerciais e de popularidade. Porém, por mais que se pareça ter relevância nos fatos, sempre a informação que chega parece vazia, justamente por ser algo sem muita base, por que não há como ter base neste caso. Simplesmente se trata de muitos interesses e nem mesmo os interessados devem saber o que realmente este fato representa, pois cada um tem um objetivo individual, o global acaba sendo ignorado. Alguém estava junto aos responsáveis pelo raciocínio da ação? Este mesmo alguém viveu o dia a dia de quem foi a agente disso e morreu nos aviões? Ninguém. A história neste caso não passa de uma especulação a respeito dos dados que estão evidentes a olho nu, mas que nada tem a ver com a realidade dos agentes formadores e participantes do fato em si.

Atualmente, ainda podemos discutir os fatos e temos imagens, registros deles ocorrendo. Podemos questionar as gripes como pestes generalizadas ou criação para iludir a todos e beneficiar o comércio de remédios, as guerras como luta contra o terrorismo ou pela grana do material bélico, se o Zico era um craque ou um amarelão na seleção, enfim, por mais que não cheguemos a conclusão real, ainda podemos observar o que aparece a olho nu. Porém, este olho nu está a quem da informação, do ato, do fato ocorrido.

Agora volto um pouco no discurso:
1) É difícil pra caramba contar um fato qualquer que aconteceu ontem na minha vida de forma correta e realista;
2) O receptor pode perceber o fato como um ato nada a ver com o mencionado. Fazê-lo entender é mais difícil do que contar;
3) Os fatos que temos hoje como concretos são quase impossíveis de ter uma conclusão realista, pela falta de informação dos agentes da história e a margem de interpretação e interesses envolvidos por quem conta;
4) Você ainda acredita no que aconteceu antes de Cristo, com Cristo ou na Idade Média, apesar da escassez de registros confiáveis?

Afinal, é mais ignorante quem esta a par da história, da imprensa, da informação ou quem não liga a mínima a respeito do que acontece externamente? É válido ser um historiador? Que diabos vale escrever este texto? Vamos fazer uma autobiografia e vendê-la no exterior?

segunda-feira, outubro 06, 2008

O Forasteiro e o Cadáver

Já que não se posta mais por aqui, segue abaixo mais um dos contos estranhos que escrevi.

Abraços!


O Forasteiro e o Cadáver

Os olhos fixos não condiziam com a situação da figura esquálida que adentrava o vilarejo. Os passos firmes e seguros negavam a condição de forasteiro daquele magro homem, cujas calças balançavam nas esporádicas vezes em que o vento lhe tocava. Não trazia boas novas aos aldeões daquela pequena comunidade, estabelecida em algum lugar sob o céu da Espanha. Puxava uma velha carroça, bastante debilitada, ainda fora das cercanias da vila, trazendo o corpo sem vida do que alguma vez fora um homem.

“Não temos jazigos disponíveis”, disse o forasteiro ao ser recebido pelo padre local. “Todos os jazigos de que dispomos em nossa vila são de propriedade das famílias que lá residem, Padre. Talvez haja algum sob a guarda de sua capela”, continuou, ainda distante alguns metros do pároco.

O Padre – cujo cabelo confirmava já ter ultrapassado a barreira dos setenta anos – respondeu positivamente ao desconhecido, pelo que ouviu ainda outra solicitação “Não temos um padre em nossa comunidade, mas somos religiosos. Gostaríamos de encaminhar a alma deste homem da maneira devida. Somos religiosos o bastante para desejar um funeral digno até mesmo a um indigente, como este que vos entrego”. Se houvesse pronunciado alguma palavra, o padre teria dito “Amém”.

O forasteiro vinha de uma aldeia desconhecida, mas seu povo era como o do padre no que se refere às crenças religiosas. A pequena comunidade do pároco mobilizou-se, então, para realizar o último ato socialmente significante do cadáver que lhes visitava. Possivelmente, seria até mesmo mais digno que a vida que o pobre homem vivera.

“O que fazia ele?”, “Não tinha família?”, “Morreu de quê?”. O forasteiro ouviu muitas perguntas enquanto centrava todas as atenções na única rua – e parecia mais um pátio – que havia no vilarejo. Embora fosse claro seu empenho, o forasteiro limitou-se a poucas explicações – “Encontramos o corpo caído, já sem vida, em frente aos portões de nossa vila”, dizia, enquanto colaborava com os aldeões no preparo do velório.

Ao final daquela tarde, o corpo falecido já deitava sobre um caixão de madeira, pobre como seu próprio rosto, no centro da pequena capela da vila. Praticamente todos os cerca de 70 habitantes do pequeno vilarejo já haviam visitado o local. Ainda assim, a curiosidade insaciável – comum a quem ainda não sabe o bastante – sobre o homem que conheceram morto levaria muitos a repetir a visita durante a noite.

O enterro, previsto para a manhã seguinte, certamente levaria a maioria dos aldeões ao terreno nos fundos da capela, onde jaziam os corpos dos ancestrais daquela pequena comunidade.
Pequenas aldeias não são inóspitas. São previsíveis como chuvas de fim de tarde. A monotonia – típica do cotidiano vazio de uma comunidade fechada – desperta o imaginário dos homens, levando-os a delirar sobre o mundo fora das cercanias. Um mundo que poderiam conjeturar e imaginar como lhes fosse conveniente. O cadáver vinha de fora, e ainda se ouvia perguntas e teses sobre quem fora em vida aquele a quem preparavam o descanso eterno.

Um assassino punido com o ostracismo por seu povo, e entregue à própria sorte? Um santo que faria pairar sua bênção sobre aqueles que o recebessem para dar-lhe paz pelo infinito? O forasteiro partiu antes das respostas, assim que teve certeza da realização do cerimonial. Já tinha certeza de que poderia confiar em seus irmãos de crença.

Rumou de volta à sua terra, sem igreja e sem padre. Deixava para trás um cadáver e levava consigo a certeza do dever cumprido. No vilarejo do qual se retirava, deixara um mistério. Simples, mas suficiente para uma lenda local. O pequeno povoado daria uma nova identidade ao homem morto, e o forasteiro estava certo disso, tanto quanto do inverso.

Na sala principal da capela – que só não era a única porque ainda havia o confessionário e um pequeno quarto atrás do altar – ainda havia o que fazer. Uma jovem donzela arrumava a mesa com pão e chá, oferecidos a quem quisesse acompanhar os últimos momentos sociáveis daquele corpo.

Quando encheu para si uma caneca com chá, ouviu mais do que o ruído da porta sendo aberta pelo padre. O corpo gemera. Os olhos antes fechados do homem morto agora a fitavam, amarelos como o sorriso de um moleque levado. O estrondo do caixão caindo dos fracos cavaletes não foi páreo para o grito aterrorizado da garota. Em seguida, um gemido de fúria ecoou pela capela, e a vida da moça não foi longa o bastante para compreendê-lo. Com os dois braços, o homem – ou o que fosse aquele ser – quebrou-lhe o pescoço com destreza e amassou-lhe o crânio com um único murro.

O terror que assolava o padre, então estático junto à porta de entrada, tomou-lhe algum tempo antes que pudesse reagir. No momento único em que seu olhar encontrou o do cadáver, teve certeza de que aquele ser inexplicável o queria. Correu gritando palavras das quais jamais se lembraria, saindo em disparada pela porta da frente da capela.

Se o padre conseguiu correr o bastante, melhor sorte não tiveram as tricoteiras que já supunham histórias fantásticas sob o luar nas proximidades da capela. Foram poucos os golpes e arranhões que as levaram à morte. Eram, então, só mais alguns pedaços de carne espalhados pela terra batida, tarefa fácil para o animal em que o corpo antes tido por inerte se transformara.

O que seguiu naquela noite quente de verão foi uma caçada mortal por toda a pequena vila, que foi fechada isolada do resto do mundo assim que o forasteiro pisara com os dois pés do lado de fora, como era costume em certa altura da noite.

Os aldeões resistiram enquanto suas portas e janelas suportaram a fúria insana do assassino que perambulava em volta das casas. Mas a madeira fraca custou muitas vidas. Um a um, os vivos foram caindo ao chão, inertes como o futuro que lhes recebia, até que restassem apenas nove, reclusos na capela onde o morto-vivo iniciara sua caçada.

Aquele era o prêmio por concederem honras fúnebres a um cadáver desconhecido: um povo aniquilado quase por inteiro e nove vidas encurraladas em volta de um altar. O padre, esperançoso, inspirou-se em sua fé e dirigiu-se à única janela ainda aberta para exorcizar o suposto demônio que movia o morto-vivo.

Sem que pudesse ver de onde vinha o golpe, o padre foi puxado com violência para fora da capela e atirado alguns metros adiante pelo cadáver. Deitava ainda consciente no chão. Não correu. Sequer esforçou-se em levantar. O padre encomendou a própria alma nos poucos segundos que o assassino levou para aproximar-se novamente.

Os oito remanescentes no interior da capela trataram de garantir suas próprias vidas intactas por mais alguns instantes e fecharam rapidamente a janela pela qual o padre fora puxado. Lá fora, o padre morreu com um único golpe. O cadáver não lhe mordeu a carne, mas devorou-lhe ao cometer o simples ato de matar.

Esperaram.

Quando os primeiros raios de sol acordavam mais uma manhã, um único homem dentre os sobreviventes decidiu enfrentar sua própria covardia e sair da capela, onde passara um par de horas recluso. Tinha vontade de expandir seus limites como jamais tivera dentro das cercanias da pequena vila. Pisou do lado de fora da capela e rezou para que o corpo estivesse novamente inerte.

Os portões da vila estavam estranhamente abertos, e o cadáver, ensangüentado, jazia de modo que ninguém poderia supor se caíra ao entrar ou ao sair da aldeia.

Havia, então, muito a fazer. Casas a reconstruir, provisões a estocar… Muitos corpos ainda precisariam de um lugar debaixo da terra daquele vilarejo. À exceção de um.

Os olhos fixos não condiziam com a fragilidade de quem passou a noite acordado. Eram, contudo, reflexo de quem vence a luta pela sobrevivência. Os dois braços trêmulos do homem franzino puxavam uma pequena carroça, onde jazia um cadáver inerte.

O corpo deixou o vilarejo da mesma maneira como foi recebido: aparentemente morto. Não havia mais padre para os ritos fúnebres.

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O conto "O Forasteiro e o Cadáver" foi escrito para fins de participação no 2º Concurso de Contos do Overlook Hotel < http://overloookhotel.wordpress.com/ >

domingo, fevereiro 24, 2008

O Instituto Sagrado do Matrimônio

Afinal, o que é o casamento?


Parando para pensar no amor, e como estudante – não exemplar – de Direito, cheguei a algumas conclusões que gostaria de compartilhar com os colegas. Por que as pessoas casam?


Por amor? Ok, mas o amor é natural, correto? Decorre da atração física, sentimental, monetária, qualquer atração, mas nasce de algo que não se consolida em um contrato. Não é por que as pessoas estão casadas que se amarão mais, ou pior: não é porque casadas que irão se amar. Sim, contrato porque o casamento é um contrato. E, diga-se de passagem, um contrato em que as duas partes saem perdendo. Claro que sim! Veja bem, em um contrato-casamento, os cônjuges assumem obrigações que antes não tinham, e muitas delas relacionadas ao patrimônio de ambos.


Pois bem, mas o nosso outro colaborador poderá se manifestar a respeito daquela comunhão em que nenhum bem é dividido. Sim, então, se o casamento em si não refere-se ao patrimônio, e como já supra mencionado, não refere-se ao amor, a que então destinar-se-ia um casamento baseado nesse tipo de comunhão?


Esqueço de mencionar o caráter religioso do matrimônio, instituto sagrado que leva ao conhecimento divino que os dois cordeirinhos agora querem ser pastores. Se fosse esse o propósito da igreja, não acredito que as paróquias cobrariam tanto pelo aluguel de seus altares, púlpitos, coroinhas, coral e todos os mais diversos aspectos que contribuem para o teatro sagrado. (veja-se, nesse sentido, parte final do filme “O filho do noivo”, em que o padre faz um orçamento do casório).


Antes que critiquem a generalização, quero dizer que acredito naqueles que fazem uma festa só para compartilhar com os outros a sua felicidade. Mas aí, de novo, vai por água abaixo se for realizada a cerimônia na igreja. Conheço casais que se casaram no civil (e aí recai novamente a minha pergunta: pra quê?) e que deram uma festinha só para comemorar com o pessoal. Tudo bem. Mas fato é que o instituto do casamento, no que se refere à igreja e contrato societário, é algo sem a menor substância, que retira a condição natural dos homens para, mais uma vez, minimizá-los no que chamamos de sociedade.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

A velha técnica do autorama (ou para motivá-los a tentar usar a cabeça)

Diversas vezes na minha vida me deparei com um grave problema na era da dependência tecnológica: o defeito na porra do computador. Pois é, creio que este mal esta presente na vida da maioria dos cidadão de bem. A segunda merda é: quem faz um serviço decente na porra do computador?

Baseado nestas duas premissas, a pouco tempo comecei a desenvolver técnicas de maquiar e/ou consertar os defeitos do micro. A última foi agora a pouco, baseado na milenar sabedoria da "oxidação dos carrinhos e pistas de autorama". Acredite, é real e a descreverei nos próximos parágrafos.

Pra variar, de uma hora pra outra o PC não quis ligar. Tento abri-lo e observar algum contato que esteja solto, algum fio que esteja cortando corrente, algum mau contato... Enfim, dessa vez nada. Bueno, terei que pedir auxílio aos universitários, pensei eu. Liguei para um amigo e descrevi o ocorrido. Logo, ele disse que havia 90 por cento de chance do problema ser na memória do desgraçado. Mais 100 pilas de graça, que bosta!

Mas não me entreguei para os homens de jeito nenhum! Resolvi tirar a memória e recolocá-la. Óbvio que não tive êxito. Foi então que a velha técnica do autorama chegou até mim. Lembro-me que quando tinha o meu autorama do Ayrton Senna, sempre a pista e o ponto de contato do carrinho oxidavam, fazendo com que ao apertar o botão o carrinho não andasse nada. Quando isto acontecia, eu pegava uma lixa ou uma simples borracha de apagar lápis, passava em ambos os pontos de contato e o carrinho voltava a andar.

Como não tinha borracha e nem lixa, bati na porta do meu vizinho de porta, interrompi uma possível foda que ele e a mulher estavam tendo e consegui a tal borracha faber castel. Retornei ao meu humilde AP, passei a borracha, reinstalei a memória e advinhem! Sim, o computador perdeu mais uma e o vendedor medíocre das lojas de micro perdeu a comissão de venda em cima da memória que eu teria que comprar. Funcionou, não é incrível!

Moral da história: Todos podemos ser professores de hardware do senac. É só usar a cabeça ou brincar de autorama.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Poesia é um cocô com milho e bacon (mas talvez eu saiba fazer essa bosta...)

eu minto ser
finjo estar
tropeço em um tamanco
mas quero voar
voar para fora
de fora pra dentro
ver um tormento
num furo de all star
enquanto penso
ser incompreendido
por ter perdido
meu ipod num bar
sair do orkut
comer um beirute
pisar no compadre
pra me vangloriar
por todas as coisas
por todas as louças
por todas as bolsas
(seja vitor hugo ou louis vitton)
paro de fingir
paro de fumar
e paro de beber
na próxima segunda-feira