sexta-feira, novembro 03, 2006

Arquivo confidencial (Brincadeira meu!)

Passo Fundo, 4 de dezembro de 1985. Nasce um “ser livre”. Como este pequeno humano não pode simplesmente chamar-se de “humano”, dão a ele um nome: Rafael. Alguns dias depois, o pequeno ser é batizado. O choro é inconsciente mas já exprime seu descontentamento com a água benta e o óleo colocados em sua testa sem sua aprovação. No natal, encarna o “menino Jesus” no presépio da igreja. As velhinhas até hoje o cumprimentam por tal fato, deve ter sido uma atuação impecável.

Alguns anos passaram, Rafael, católico desde os 5 dias de vida, começa a ganhar uniformes daquilo que dizem ser seu time de coração, o Internacional. Ele gostava de futebol e via todos necessitarem torcer ou secar alguma coisa, era o assunto das ruas, também precisava fazer. Quando foi ao Beira-rio em 1992 e viu a explosão de alegria da multidão após o gol do título feito por Célio Silva, além de quase morrer pisoteado, admite-se um colorado fervoroso.

Nas reuniões e comemorações partidárias de seu pai, cria-se a imagem de um pequeno socialista apontado por muitos como futuro vereador, apesar da pouca idade. Ele não entendia o porquê das comemorações e dos rótulos, apenas seguia ou jogava vídeo game em seu quarto para passar o tempo e não ter que ouvir nada. Rafael também não sabia por que os socialistas mijavam fora da privada depois de grandes. Foi descobrir que era o excesso de bebida (ou a falta de convicção).

Na escola nunca aprendeu a recortar. Diziam que era normal não o fazer. Quando errava o português as professoras fingiam não ver por fazer parte da didática de ensino baseada na premissa de que errar é normal. Então aprendeu a não fazer direito e gostou de ser medíocre por algum tempo.

As missas de domingo ainda o atormentavam. Detestava aquela velharia e aquele Deus que ele não podia apertar a mão. Seus pais forçaram o garoto livre a fazer a primeira eucaristia e a crisma a contra gosto. Bem ou mal, aos 10 anos ele começava a saber o que queria realmente. Ao mesmo tempo pensava que já era católico, colorado e socialista além de aprender a errar na escola.

Hoje, ele tem muito mais consciência do que no início de sua vida, tem idéias próprias e tenta não buscar apoio em algo criado e forjado pelo senso comum. Infelizmente não pode se “desbatizar”, não conseguiu deixar de ser colorado (ao menos não é anti-gremista) e viu que o socialismo é só uma forma de conseguir reunir pessoas em torno de uma idéia, algo para dar sentido a uma vida. Mas ao menos agora Rafael tem consciência do valor individual e está sempre aprendendo a desaprender.

2 Comments:

At sexta-feira, novembro 03, 2006, Blogger Leonardo Croatan said...

E é bem assim que o ser humano se mostra controverso. Por ganhar uma identidade rotulado em seu crescimento inserido em determinado meio social, muitos indivíduos passam a procurar novas características que lhe concedam uma identidade que n~]ao a imposta por seus pais e professores.

Porém, infelizmente nem todos procuram construir sua identidade em cima de suas próprias convivções, e acabam apenas escolhanedo quais serão os que lhe rotularão uma identidade, e assim ele será mano, metaleiro, playboy, socialista, hippie ou qualquer semelhante.

Quanto a aprender a errar, lembrei da premissa "errar é humano". Por exemplo, o ser humano é qualificado como pecador, e sempre o será. Por outro lado, o grande objetivo do homem é não pecar, e seguir acreditando que é essencialmente pecador. Aí o cara pode tentar acertar, mas se errar não tem problema, porque é da natureza humana errar.

 
At sexta-feira, novembro 03, 2006, Blogger Rafael said...

Excelente cara! Como é possível errar ser humano e ser errado pecar ao mesmo tempo? Só para poder dar a desculpa necesária para "acertar" sempre. Quanta mediocridade...

 

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