domingo, fevereiro 04, 2007

Mal estar social... (ou o dia em que aprenderemos a dividir nossos brinquedos)

Relendo meu texto anterior, me deparei com uma questão interessante. Com a falta de consciência de grande parte da população que se entrega facilmente aos "valores prontos" de qualquer instituição como se fosse um número de fast food, embasando a vida em mandamentos e fantasiando a rotina e o pós-morte, se tivessemos a realidade dos fatos, ou seja, se vendessemos a idéia de que não temos um paraíso depois de morrer, por exemplo, será que não estaríamos vivendo um caos?

Penso as instituições como um mecanismo de controle social. Lidam com todos aqueles que não conseguem chegar nas suas próprias conclusões e, por isso, necessitam de uma afirmação. Se esta massa manipulável não tivesse esta perspectiva da igreja, por exemplo, talvez pudessem supor que a vida não valeria a pena e que matar ou morrer é completamente indiferente, tendo em vista suas rotinas medíocres. Isto acarretaria no caos, visto que o mesmo bando que acredita em um Deus punitivo e no paraíso poderia acreditar no nada e viver impulsivamente um niilismo sem objetivo.

Claro que a minoria consciente nunca nos levaria ao fim, somente jogaria com as possibilidade da vida através de seus próprios valores. Assim, o consciente teria na vida a única chance de construir o paraíso pessoal, se depois da morte nada tivesse seria indiferente, ele quereria viver. Mas falamos da massa, será necessário acreditar em alguma instituição para ter sentido na vida? Será que pode ser benéfico este controle social imposto pelas grandes instituições? Elas podem estar regulando o mundo!

Por isso, talvez as instituições sejam necessárias no modelo vigente e esta criação de indivíduos homogêneos seja importante para a manutenção de uma sociedade (ao menos chamamos assim). Assim, teríamos as minorias formadas pelos conscientes (seja em grupos ou isolados) e a maioria manipulável. Esta é a tônica da sociedade atual e pode ser o resultado final da política do bem estar social baseada na coletividade: é necessário ter algumas minorias que servem de extremos reguladores e uma maioria homogênea para a manutenção de poder que pede um número cinco com fritas na igreja, um tênis nike na política e valores enlatados com gosto de isopor no super-mercado.

É medíocre, mas é o que chamamos de coletividade e de bem estar social. Será que na tentativa de despertar a consciência individual e ter uma sociedade egoísta* (no real sentido da palavra) não teríamos uma sociedade de maior "bem estar" do que esta?


*egoismo: valorizar o eu, ter valores próprios e não negar a própria consciência. Sem essa de não quero dividir meus brinquedos, por favor, chega a ser ridículo pensar desta forma.

9 Comments:

At segunda-feira, fevereiro 05, 2007, Blogger Leonardo Croatan said...

Sim, grande parte da população se entrega facilmente a convenções, e também sente-se aliviada com a concordância dos outros indivíduos. Se eu concordo com isso? Definitivamente não.

Voltando à questão da idéia de pós-morte como forma de controle, note-se que a idéia majoritariamente aceita é a de um paraíso eterno para queles que não pecarem.

Imaginemos que tal premissa não fosse aceita pela sociedade. Em seu lugar, creria-se na extinção da "alma" e do corpo após a morte. Dessa forma, não havendo um paraíso no qual pudessem satisfazer seus prazeres, da mesma forma que fariam os chamados "conscientes" no teu texto.

Há um parágrafo que eu gostaria de analisar melhor, qual seja:

"Se esta massa manipulável não tivesse esta perspectiva da igreja, por exemplo, talvez pudessem supor que a vida não valeria a pena e que matar ou morrer é completamente indiferente, tendo em vista suas rotinas medíocres. Isto acarretaria no caos, visto que o mesmo bando que acredita em um Deus punitivo e no paraíso poderia acreditar no nada e viver impulsivamente um niilismo sem objetivo."

Se a máxima católica não valesse, acredito que os seres humanos teriam na vida, e não na morte, uma finalidade. Creio que teríamos mais assassinatos, mais estupros e todo o tipo de coisa que gera prazer a uma só parte, e assim restabeleceríamos a forma mais originária da lei do mais forte, que seria o capaz de produzir todos os seus prazeres.

Creio que as chamadas "rotinas medíocres" não sejam assim porserem consideradas meios para atingirem o paraíso. Creio que justamente a distinção que tu faz de conscientes e não conscientes seja a explicação para tal mediocridade.

Eu creio na consciência racional como meio de estabelecimento cconcreto de uma vida coerente, logo, creio que a mediocridade relacionada pelo teu texto à máxima da Igreja, por ser decorrente da "inconsciência", permaneceria a mesma, porém com base nas premissas que tomariam o lugar do axioma do pós-morte.

Creio que, não havendo a suposição do paraíso e de um Deus punitivo, teríamos pessoas mais egoístas, visto que não haveria uma diretriz moral (que, neste caso, é o Deus punitivo) capz de inibir certos comportamentos.

Perguntando novamente se eu concordo, a resposta é a mesma: não. O egoísmo que resultaria da hipótese levantada não seria resultado do raciocínio interior de cada ser optando pelos próprios interesses, mas da modificação das forças externas ao induivíduo.

Ou seja, bastaria que meia dúzia de vizinhos começassem a adotar determinado padrão de comportamento para que os ditos "sem consciência" seguissem irracionalmente tal padrão.

O que quero dizer é que não importa qual vai ser a premissa levada em conta, mas sim a falta de valores próprios que levem a convicções plenas e alcançadas por uma forma de raciocínio egoísta, na mais pura acepção do termo.

Qualquer porcaria enche uma cabeça vazia.

 
At segunda-feira, fevereiro 05, 2007, Blogger Leonardo Croatan said...

Corrigindo a frase:

Dessa forma, não havendo um paraíso no qual pudessem satisfazer seus prazeres, os indivíduos sem consciência o fariam em vida, da mesma forma que fariam os chamados "conscientes" no teu texto, só que sem juízo de valor.

Ah, e só pra constar, eu não acho que assasinatos geram prazer. Mas há quem possa utilizar-se de tal medida para atingir os seus prazeres.

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Blogger Leonardo Croatan said...

Uma consideração que julgo importante: não se pode confundir "bem estar social" com bem comum. No último parágrafo, tu dá um caráter organizacional ao "bem estar social" dentro da sociedade.

Quanto à função de sistematização de uma sociedade com base no chamado bem estar social, estamos tratando do Estado do Bem Estar Social (Welfare State).

Essa sistematização substituiu, no início do século XX, o chamado Estado Social.

Como características importantes, o Estado do Bem Estar Social apresenta, conforme lista Vinício C. Martinez, professor de Direito em Marília, SP, em seu artigo "Estado do bem estar social ou Estado social?", ao qual eu atribuo alguns comentários:

É um Estado Providência, porque desenvolve políticas públicas populares - aqui, é preciso ressaltar qeu o caráter do desenvolvimento de políticas públicas não significa projetos como bolsa-família e outras porcarias que criam mais vagabundos no país.

Implementa uma forma de democracia - sem juízo de valor, ou seja, não se pode culpar o regime do "bem estar social" pela forma com que é aplicada e conceituada a democracia atual.

Declara o direito à dignidade da pessoa humana - nesse ponto, creio não haver discordância.

Propõe a Federação

Incentivam a sindicalização - mais uma vez, sem juízo de valor, ou seja, propõe a sindicalizaação, mas não como meio de manobra política, como é feito atualmente.

É um Estado Interventor, porque há:

- Forte investimento na economia.

- Revitalização do capitalismo.

- Investimento da infra-estrutura (indústria de base ou de transformação).

É considerados civilizador, porque:

- a legislação social e trabalhista deve proteger o trabalho livre. Mas, não se deve esquecer que essa é a lógica do capital.

- o trabalhador livre recebe salários porque deve consumir a com isso estimular a produção, ou seja, o próprio ciclo capitalista é quem mais se beneficia do assalariamento.

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Blogger Leonardo Croatan said...

Parece-me que tu acaba confundindo o bem estar social com o bem comum referido em "Quem é John Galt?" (desculpa se eu estiver errado).

Ao Estado do bem Estar Social, podemos fazer a mesma crítica que George Orwell faz ao socialismo na "Revolução dos Bichos".

É uma sistematização mal aplicada!

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Gostei do trecho:
"manutenção de poder que pede um número cinco com fritas na igreja, um tênis nike na política e valores enlatados com gosto de isopor no super-mercado." Muito bom!

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Gostei também da definição de egoísmo. Engraçado como tenho dito às pessoas como tenho andado cada vez mais egoísta, e logo após esta declaração, sinto obrigação em me justificar e explicar o conceito da palavra...

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

Política "pão e circo"??

 
At quarta-feira, fevereiro 07, 2007, Anonymous Anônimo said...

A propósito, você já leu "O livro das Religiões"?? Autores: Victor Hellern / Henry Notaker / Jostein Gaarder.
Se positivo, adoraria que comentasse...
Se negativo, vai aí uma sugestão.

 
At quinta-feira, fevereiro 08, 2007, Blogger Rafael said...

Há muito e muitos séculos, a maioria necessita acreditar em alguma teoria para a existência e o pós-morte. Quem os controla agradece.

Não entendo a diferença entre crer no paraíso, no nada ou numa suposta realidade se nenhuma das afirmações for digerida pelo público em questão. O que adianta os conscientes tentarem virar maioria, vendendo a realidade nua e crua apenas para massificar uma idéia e fazê-la perder o sentido? O que adianta forçá-los a acreditar em algo que sua própria consciência e seus próprios "não valores" não assimilam?

Acho que a questão está mais além. As minorias regulam e sustentam uma maioria burra. Os conscientes que sustentam a inconsciência e os valores sustentam o "sem sentido" alheio. Acho que o ponto é tentar perceber como a minoria pode sair deste sustentáculo de ilusões.

Nada pode ser criado pelo poder divino a partir do nada. A fé não move uma palha sem atitude, é isto que a massa tem de perceber através da sua própria consciência, e não, pelo senso comum.

Adriana, o ser humano é egoísta mas todos fazem questão de mascarar este fato tão lógico acreditando que pela bondade aos outros e não a si próprio que estão sendo corretos para a sociedade. De fato, mas estão negando uma individualidade e uma mente que pensa e age segundo suas próprias convicções e deve pensar por sí próprio. Só sair do trabalho e irei procurar o livro que recomendou. Assim que ler te comento...

 

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