Luís Carlinhos
Era um mendigo
Está desempregado
Barba mal feita
Cabelo mal cortado
Bebe cachaça
Até de madrugada
Cheira loló
E acorda com a cara inchada
Voltando a postar aqui, verifico a coincidência do que li no vídeo do mendigo fazendo sexo em público com as "telas" de Luís Carlinhos. São poucos os que conhecem pelo nome essa figura a qual fui apresentado em uma parada de ônibus. Estava acompanhado do Rafael quando Luis Carlinhos nos abordou pedindo míseros 50 reais para ir ao Iraque. Dentre outras piadas, Luís Carlinhos demostrou até mesmo ter conhecimento da "periculosidade" (palavra que, mesmo podre de bêbado, pronunciou corretamente) da mulher.
Luís divertiu-nos com as muitas besteiras que dizia. Na época, Rafael e eu formávamos a banda Evil Fox. Decidimos, por bem, que comporíamos uma música em homenagem àquela espécie de mendigo. Poderíamos ter feito uma música para qualquer morador de rua. Mas, de alguma forma, simpatizamos com aquele cara de jeito engraçado e riso fácil (bem verdade que, após certa concentração de álcool no sangue, qualquer um ri à toa, mas estou falando sério agora).
Era estranho como Luís Carlinhos pronunciava algumas palavras corretamente, e também era estranho o fato de uma pessoa aparentemente sem instrução lidar com tanta naturalidade com assuntos então atuais, como a invasão do Iraque, por exemplo.
Ao ver o vídeo abaixo postado, pensei no conceito de baixaria. Não me satisfaço com a explicação de que ele é homem e ela é uma mulher para justificar sexo em praça pública. Por outro lado, o que me desperta atenção é a incoerência em condenar tal atitude e incentivar o mesmo ato como cultura geral através de atos menos incisivos, que se insiste em sustentar sem juízo crítico. Foi um dedo apontado para essa incoerência que ontem à tarde vi muitíssimo bem retratado pelo mesmo Luís Carlinhos a que me referi nos parágrafos acima.
Luís Carlinhos desenha em folhas de papel que aparentam ser obtidas com certa dificuldade, e as mantém expostas exatamente no topo (isso não é uma metáfora) da Avenida Borges de Medeiros, embaixo das escadarias no Centro de Porto Alegre.
O conteúdo das obras de Luís Carlinhos é, por vezes, desprovido de conteúdo sólido. Porém, há gravuras em que se pode perceber o mesmo conteúdo sóbrio que pudemos verificar em meio aos devaneios quando o conhecemos. Ontem, os desenhos não estavam simplesmente expostos no chão. Alguns apoiavam-se sobre os outros, formando uma espécie de galeria, que eu sinceramente achei legal, adequada à situação do seu autor.
A mesma incoerência que condeno foi retratada em uma das gravuras elaboradas por Luís Carlinhos. O desenho de um rato era acompanhado por alguns dizeres. Talvez as palavras não sejam exatamente estas, mas o sentido, garanto-lhes, é o mesmo:
"Acha que isso aqui é baixaria? Reclama pra TV também! Tá ligado!"
E nunca eu vi um "tá ligado" tão afirmativo. Posso parecer clichê quando digo que o que o cara tinha de diferente era um indício de consciência em meio a uma situação risível. Luís Carlos tinha consciência. E, ao ser perguntado sobre seu nome, respondeu-nos o nome completo. Não era apenas Luís Carlos: era Luís Carlos da Rocha. De todos os que já me pediram um trocado, o único do qual eu me lembro. Rafael, acho que tá aí o próximo a expor no Clube dos Criadores.
Luís divertiu-nos com as muitas besteiras que dizia. Na época, Rafael e eu formávamos a banda Evil Fox. Decidimos, por bem, que comporíamos uma música em homenagem àquela espécie de mendigo. Poderíamos ter feito uma música para qualquer morador de rua. Mas, de alguma forma, simpatizamos com aquele cara de jeito engraçado e riso fácil (bem verdade que, após certa concentração de álcool no sangue, qualquer um ri à toa, mas estou falando sério agora).
Era estranho como Luís Carlinhos pronunciava algumas palavras corretamente, e também era estranho o fato de uma pessoa aparentemente sem instrução lidar com tanta naturalidade com assuntos então atuais, como a invasão do Iraque, por exemplo.
Ao ver o vídeo abaixo postado, pensei no conceito de baixaria. Não me satisfaço com a explicação de que ele é homem e ela é uma mulher para justificar sexo em praça pública. Por outro lado, o que me desperta atenção é a incoerência em condenar tal atitude e incentivar o mesmo ato como cultura geral através de atos menos incisivos, que se insiste em sustentar sem juízo crítico. Foi um dedo apontado para essa incoerência que ontem à tarde vi muitíssimo bem retratado pelo mesmo Luís Carlinhos a que me referi nos parágrafos acima.
Luís Carlinhos desenha em folhas de papel que aparentam ser obtidas com certa dificuldade, e as mantém expostas exatamente no topo (isso não é uma metáfora) da Avenida Borges de Medeiros, embaixo das escadarias no Centro de Porto Alegre.
O conteúdo das obras de Luís Carlinhos é, por vezes, desprovido de conteúdo sólido. Porém, há gravuras em que se pode perceber o mesmo conteúdo sóbrio que pudemos verificar em meio aos devaneios quando o conhecemos. Ontem, os desenhos não estavam simplesmente expostos no chão. Alguns apoiavam-se sobre os outros, formando uma espécie de galeria, que eu sinceramente achei legal, adequada à situação do seu autor.
A mesma incoerência que condeno foi retratada em uma das gravuras elaboradas por Luís Carlinhos. O desenho de um rato era acompanhado por alguns dizeres. Talvez as palavras não sejam exatamente estas, mas o sentido, garanto-lhes, é o mesmo:
"Acha que isso aqui é baixaria? Reclama pra TV também! Tá ligado!"
E nunca eu vi um "tá ligado" tão afirmativo. Posso parecer clichê quando digo que o que o cara tinha de diferente era um indício de consciência em meio a uma situação risível. Luís Carlos tinha consciência. E, ao ser perguntado sobre seu nome, respondeu-nos o nome completo. Não era apenas Luís Carlos: era Luís Carlos da Rocha. De todos os que já me pediram um trocado, o único do qual eu me lembro. Rafael, acho que tá aí o próximo a expor no Clube dos Criadores.
Ele é o cara
Mais culto da cidade
Sabe pronunciar
"Periculosidade"
Estava eu
Esperando na parada
Ele me achou
E me contou uma piada